domingo, 24 de maio de 2020

História do Câmbio!

Imagine só, meu pai o seu Arthur V.M.de Macedo que nasceu em 1920 viveu quase toda a evolução dos câmbios de bicicleta.
Uma bicicleta de competição tem muitas peças importantes, mas uma em especial tem uma importância maior (sem ela o Mountain Bike sequer existiria e ninguém seria BRUTÃO), e muitas vezes nem damos muita atenção a ela. Essa peça é câmbio de marchas. Embarque nesse post para conhecer mais sobre o descarrilhador, ou câmbio de bicicleta e a sua história.

Câmbio traseiro, essa peça reformulou a história da bicicleta.


Origem
O ciclismo de estrada é o pai dos esportes com bicicleta, e foi através dele que surgiu a necessidade de se criar uma forma dos ciclistas vencerem as montanhas das provas da Europa, por que de FIXA não era tão vantajo.
O início de tudo se deu com a criação da roda livre, pois os atletas podiam parar de pedalar para descansarem os músculos, além de ser muito mais seguro para pedalar. A partir daí começaram a surgir as primeiras “soluções”. A primeira delas foi em 1914, com a adoção de uma roda com duas engrenagens, uma maior para trechos mais íngremes e outra menor para trechos planos.
Sistema de inversão da roda. Esse mecanismo permite a centragem da roda de acordo com a engrenagem escolhida
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Sistema de inversão da roda. Esse mecanismo permite a centragem da roda de acordo com a engrenagem escolhida
Os ciclistas tinham que parar, tirar a roda traseira da bicicleta e inverter o lado da roda para usar a engrenagem que precisavam. 
Os ciclista da foto estão invertendo as rodas das sua bicicletas num Tour de France da década de 1930
Imaginem uma cena dessas em pleno Tour de France
Os ciclistas da foto estão invertendo as rodas das suas bicicletas num Tour de France da década de 1920
O próximo passo foi a criação de rodas livres com 2 ou 3 engrenagens (algumas bicicletas que usavam esse equipamento eram de cubo contra-pedal). As rodas usavam “borboletas” no lugar das porcas, o ciclista girava as borboletas e encaixava a corrente no pinhão que iria usar e apertava novamente as borboletas e seguia em frente. As vezes as rodas saíam do centro durante o percurso e o ciclista tinha que saltar da bicicleta e ajustar a roda novamente!
Sistema de 2 engrenagens e mudança manual. Repare nas borboletas usadas para apertar e afrouxar as rodas
Sistema de 2 engrenagens e mudança manual. Repare nas borboletas usadas para apertar e afrouxar as rodas
O grande problema de parar para ajustar a roda não durou muito tempo, ainda na década de 1920 Alfredo Binda usava um esticador com roldana que ajustava a tensão da corrente, esse esticador ficava preso próximo ao movimento central e era acionado por uma alavanca.
Sistema de mudança manual com esticador de corrente
Sistema de mudança manual com esticador de corrente
Entre 1924 e 1925 uma fábrica de bicicletas chamada Ancora, criou uma novidade, o Câmbio Victoria. Este câmbio usava um esticador com mola e trocava a corrente nos pinhões através de um dispositivo de duas aletas, fixado no lado de cima do tubo traseiro horizontal, um pouco a frente do pinhão. A troca de marchas acontecia pelo girar desse tirante para um lado ou para o outro, bastando apenas pedalar para trás. Com o uso da mola no esticador, a corrente ficava sempre ajustada. Este câmbio, batizado com o nome de “Vittória Margherita”, já permitia o uso de uma roda livre de quatro velocidades, e a partir dele os melhoramentos foram acontecendo rapidamente.
O câmbio Victoria usado nas bicicletas Ancora
O câmbio Victoria usado nas bicicletas Ancora
Surge uma lenda
A 2° Guerra Mundial colocou um intervalo nas competições e no desenvolvimento tecnológico das bicicletas, mas logo após o fim da guerra, as atividades foram retomadas e as novidades começaram a surgir. Os câmbios deram um grande salto.

O nome que, dali para a frente, passaria a ser sinônimo de desenvolvimento tecnológico era: Campagnolo



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Na semana passada começamos a contar a história desse equipamento tão importante na história da bicicleta e do ciclismo em geral. Vamos conhecer agora a história do homem que revolucionou a história da bicicleta, Tullio Campagnolo.
Nasce uma lenda 
Tullio Campagnolo nasceu em uma modesta família em Vicenza, Itália. Foi na loja de ferragens do pai que Tullio adquiriu a habilidade mecânica que o ajudaria a desenvolver os produtos que revolucionariam o ciclismo. Nessa época ele era um ciclista amador, chegou a correr a Milão – São Remo e Volta da Lombardia. Foi durante essa época que ele pôde vivenciar as dificuldades que os outros ciclistas passavam, como remover a roda para mudar de marcha. Em 11 de novembro de 1927, Tullio estava atravessando o Croce D´Aune, na corrida Gran Premio della Victoria e precisou remover a roda para mudar a marcha, mas suas mãos estavam tão geladas que ele não conseguiu soltar as borboletas que prendiam a roda, o que o fez perder a corrida.

Tullio Campagnolo no Gran Premio della Victoria
Tullio Campagnolo no Gran Premio della Victoria
Enquanto lutava para soltar a roda ele pensou que alguma coisa na roda traseira precisava mudar. Ele voltou para sua oficina e saiu de lá com uma alavanca de fecho rápido, hoje nossa velha conhecida blocagem de eixo. Antigamente entre o ciclistas aqui, era chamado de “eixo agulha”.
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Primeiro modelo de blocagem Campagnolo. Ainda era usado com um câmbio tipo alavanca

A blocagem ou fecho rápido foi apenas a primeira de uma série de inovações que saíram da oficina de Tullio Campagnolo. Foi dessa humilde fábrica em Vicenza que surgiu a idéia do Derailleur (descarrilhador), mais conhecido aqui como câmbio traseiro. Como vimos na parte I desse nosso post, antes do câmbio traseiro existir, os ciclistas tinham que inverter a roda traseira para poderem trocar de marchas, o que além de dar muito trabalho, era muito pouco para escalar as montanhas da França ou Itália. Campagnolo pensou num sistema diferente, então em 1933 ele inventou o primeiro descarrilhador do mundo. Continuou aprimorando o projeto e desenvolveu o Câmbio Corsa em 1940.
Câmbio Corsa
Câmbio Corsa
Logo depois ele lançou o Câmbio Roubaix que combinava o fecho rápido e a troca de marchas numa só alavanca. Para os padrões de hoje é um sistema bem complicado, mas para época era avançado, era a primeira vez que um ciclista podia trocar de marcha em movimento. Para fazer a troca de marcha, o ciclista folgava a roda traseira abrindo a blocagem (isso enquanto pedalava!), então com a outra alavanca ele movia a corrente na direção de um pinhão para o outro, quando a mudança era finalizada ele reapertava a blocagem. Esse sistema rudimentar revolucionou o ciclismo! Fausto Coppi e Gino Bartali foram alguns dos ciclistas que venceram muitas provas com os câmbios Campagnolo. Até a década de 1950 esses câmbios ainda eram usados. Foi a partir da década seguinte que Tullio desenvolveu um projeto de câmbio muito parecido com os atuais. O surgimento da Campagnolo como o fabricante definitivo de componentes foi devido, em grande parte, à própria pessoa de Tullio e ao seu conceito de fazer uma ligação entre o produtor e o usuário final. Prenunciando a P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) das companhias de hoje, Tullio começou seguindo as competições pessoalmente, ouvindo sugestões dos ciclistas e modificando os produtos para atender às necessidades deles.A partir da década de 1950 Tullio desenvolveu o primeiro câmbio de paralelogramo, padrão que é utilizado até hoje. Foi o câmbio Gran Sport 1012.

Tullio Campagnolo criou o padrão de câmbio usado até hoje
Tullio Campagnolo criou o padrão de câmbio usado até hoje!

Câmbio Gran Sport 1012, o primeiro câmbio em paralelogramo do mundo
Câmbio Gran Sport 1012, o primeiro câmbio em paralelogramo do mundo
Nasce “O Grupo”
Na segunda metade dos anos 1950 Campagnolo introduziu o câmbio Record, acompanhado de uma série de novos componentes, pois até então os fabricantes de bicicletas utilizavam peças de diversos fornecedores, Campagnolo introduziu o conceito de grupo formado por uma gama de componentes construídos pelo mesmo fabricante e projetados para interagir do melhor modo possível. De lá até os dias atuais a Campagnolo segue sendo uma das principais marcas do ciclismo mundial e sempre inovando.
O gênio Tullio Campagnolo
O gênio Tullio Campagnolo
Tullio Campagnolo é um exemplo de dedicação e pesquisa, sempre atento as necessidades dos ciclistas e entusiastas da bicicleta.
Arthur V.M de Macedo 1940 




Fontes:
https://Campgnolo.com.it
https://vizionbikes.wordpress.com

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